terça-feira, 19 de novembro de 2013

Ativistas do Occupy compram dívidas pessoais no mercado e perdoam endividados

O movimento Occupy Wall Street luta contra distorções sociais e econômicas provocadas, na visão do grupo, pela ganância do mercado financeiro, mas ativistas do grupo resolveram entrar justamente no mercado que criticam para defender pessoas consideradas em situação vulnerável.

Um grupo de ativistas do movimento está comprando papéis no mercado secundário de dívidas nos Estados Unidos e perdoando os endividados.

"Nos Estados Unidos, muitas pessoas estão se endividando para lidar com as necessidades básicas da vida", explica Ann Larson, ativista do grupo Strike Debt, formado a partir do Occupy Wall Street.

"Por exemplo quando as pessoas são hospitalizadas e não possuem plano de saúde, ou sem cobertura boa o suficiente, elas recebem uma conta. E se elas não conseguem pagar essa conta, o credor vende esta dívida em um mercado secundário de dívida."

É nesta transação que grandes lucros são realizados, diz Larson. As dívidas são vendidas por valores muito pequenos – em uma proporção que chega a cinco centavos por cada dólar devido.

Com isso, o credor original – como o hospital, ou o banco que o representa – recebe apenas uma fração do que é devido, mas o dinheiro é pago imediatamente. Para lucrar, o novo credor cobra a dívida no seu valor original diretamente da pessoa que não conseguiu pagar suas contas.

"Um coletor da dívida aparece e começa a assediar a pessoa, para fazê-la pagar a dívida", diz a ativista.

"O que nós fazemos: nós entramos neste mercado de dívidas e compramos as dívidas. Mas em vez de assediar os devedores, nós perdoamos a dívida."

O dinheiro foi arrecadado pelo Strike Debt através de uma campanha pedindo doações. A meta original do grupo para o mês de novembro de 2012 era juntar US$ 50 mil, que seriam suficientes para perdoar cerca de US$ 1 milhão em dívidas pessoais.

Larson conta que a meta foi cumprida em apenas um dia. Desde então, eles arrecadaram dez vezes este valor. Com os US$ 400 mil já somados, ela diz que foram quitadas e perdoadas dívidas pessoais no valor de US$ 14 milhões, muitas delas no setor de saúde.

Como as dívidas são vendidas por valores muito baixos no mercado secundário, uma pequena quantia em doações é suficiente para perdoar altas somas emprestadas.

Inicialmente o cálculo feito pelo Strike Debt é de que cada dólar arrecadado perdoaria US$ 20 em dívidas. Mas em muitos casos, eles conseguiram proporções ainda mais favoráveis.

"Nós não tínhamos ideia de que seríamos tão bem-sucedidos", diz Larson.

'Brilhante'

A ideia faz parte de um dos conceitos do movimento Occupy em todo o mundo – o de "Jubileu da Dívida", que consiste em fazer campanha para que empréstimos tomados por pessoas e instituições mais frágeis na sociedade não precisem ser devolvidos a credores ricos.

A iniciativa do Strike Debt recebeu elogios até mesmo no mercado financeiro – tido como alvo principal dos ativistas.

Para o diretor de renda fixa do Banco de Investimentos Espírito Santo em Londres, Marcus Ashworth, a ideia é "brilhante".

Mas ele faz uma ressalva sobre a escala e os efeitos de longo prazo desta iniciativa.

"Quando o mercado perceber que existe um comprador lá fora, infelizmente os preços [das dívidas] vão se ajustar [e subir]. Mas se isso for mantido em uma escala relativamente pequena [como agora], isso pode ser muito útil", disse Ashworth à BBC.

"Como tem funcionado até este momento, a ideia é brilhante."

Ele também acredita que a iniciativa está funcionando bem nos Estados Unidos porque o mercado secundário usado para negociar dívidas pessoais é bem-estabelecido no país, e com regras sólidas.

Lá, este tipo de empréstimo é conhecido como "Ninja Loans" – ninja é uma abreviatura de "No Income, No Job, (No) Assets" (sem renda, sem emprego e sem ativos). São empréstimos de alto risco, e que justamente por isso produzem taxas de retorno enormes.

Para o endividado, esse tipo de renegociação permite que as pessoas mantenham um certo padrão de vida relativamente confortável enquanto trabalham para sair da situação de insolvência.

Mas segundo Ashworth, esse tipo de mercado não se desenvolveu tão bem em outros lugares, como na Europa, e por isso a iniciativa pode não ser bem-sucedida se exportada para outros países.

"As leis aqui na Grã-Bretanha e na Europa são muito mais duras, então é mais difícil deixar suas dívidas simplesmente para trás. Portanto o valor da dívida aqui é maior."

3 comentários:

  1. Maravilhoso. Voces poderiam fazer uma campanha para quitar as dívidas dos créditos educativos da APLUB. Se tornam impagáveis pelos juros e taxas abusivas e permitidas pelo judiciário!!

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